Cirurgia para gengiva retraída pode ser feita sem enxertos gengivais.
A cirurgia para gengiva retraída, ou cirurgia plástica gengival para recobrimento de raízes expostas, sem utilização de enxertos gengivais é um procedimento simples, com resultados satisfatórios, e perfeita para a correção de defeitos estéticos e funcionais em gengivas retraídas. Uma boa notícia para rearmonizar o seu sorriso. (post atualizado em março/2017)
Por Luís Gustavo Leite, dentista graduado e especializado em próteses dentárias pela Ufrgs, em Porto Alegre.
A cirurgia plástica gengival para recobrimento radicular é um procedimento que pode ser indispensável para muitos indivíduos. Idealizada para recobrir as raízes expostas pela recessão gengival, é essencial para a correção estética do sorriso, prevenção da retração progressiva da gengiva, bloqueio da sensibilidade dentinária e prevenção ao aparecimento da cárie radicular. Diferente da cirurgia plástica gengival para redesenho dos cortornos gengivais, é mais simples e pode ser realizada sem enxertos – o que é ótimo para você.
A simplicidade é um fator importante para o sucesso em cirurgias gengivais. Um detalhe importante desses procedimentos é que eles permitem reconstruir a gengiva retraída sem que osso e ligamento periodontal, estruturas localizadas entre gengivas e dentes e que, juntos, compõe a arquitetura periodontal – sejam reconstituídos. Isso, de fato, facilita o recobrimento cirúrgico das raízes expostas pela retração gengival, já que a reconstrução da estrutura periodontal é, por hora, um procedimento impossível.
Embora os tratamentos cirúrgicos para o reparo e regeneração do tecido ósseo periodontal – como, por exemplo, os enxertos ósseos que precedem tratamentos com implantes dentários – possuam relativa efetividade, as cirurgias para retração gengival ainda não podem se beneficiar das mesmas técnicas e procedimentos e, até o momento, os resultados não são animadores para essas tentativas.
Uma outra indicação, entretanto, para a cirurgia da gengiva retraída é o tratamento da sensibilidade aumentada aliada à prevenção ao aprecimento de lesões cariosas nas raízes dentárias – região tecnicamente difícil para a técnica de restauração dentária em resina. As indicações para as cirurgias plásticas gengivais, portanto, vão além das necessidades estéticas, e a existência de uma técnica simples de cirurgia para a retração gengival traz mais uma opção de tratamento à prática clínica do dentista.
A cirurgia para gengiva retraída com e sem uso de enxertos.
Não é nehuma novidade para dentistas o uso de técnicas cirúrgicas para o tratamento da retração da gengiva. Já vem desde a década de 70 a ideia para utilização de enxertos de gengiva livre para o recobrimentos de raízes expostas, procedimento posteriormente aprimorado, a partir da década de 80, para a utilização da camada mais interna dessa gengiva – técnica utilizada ainda nos dias atuais, e que permite uma maior previsibilidade para os tratamentos cirúrgicos.
A cirurgia para gengiva retraída com enxerto, embora mais popularizada, não é a única técnica para o recobrimento de raízes exposta pela recessão gengival. Mais simples, rápida e com pós-operatório mais tranquilo, embora não possua a ampla indicação para tratamentos dos procedimentos cirúrgicos com enxertos, a cirurgia plástica para retração gengival deveria ser a primeira opção para o recobrimento de raízes expostas dada a simplicidade do tratamento. Entretanto, é importante conhecer um pouco mais sobre ambas as técnicas:
• cirurgia plástiva gengival com exerto subepitelial
A técnica com enxertos coleta um pedaço muito específico da gengiva do palato, e que precisa ser grande o suficiente para recobrir raízes em retração gengival. Pacientes com gengivas muito finas dificultam a coleta deste enxerto, já que a parte da gengiva que realmente interessa para funcionar como enxerto é a porção subepitelial, uma camada tecidual mais interna da gengiva.
A técnica exige precisão do dentista, pois a camada de gengiva que funciona para o enxerto deve ser separada sem que as porções internas e externas sejam removidas do palato, já que, após a remoção do enxerto, as camadas remanescente da gengiva são suturadas em sua posição inicial. O enxerto coletado é então suturado, com técnicas específicas para cada situação, no local da retração gengival.
• cirurgia plástiva gengival sem exerto subepitelial
A cirurgia para gengiva retraída sem coleta de enxerto gengival é mais simples, e compreende diversas técnicas que são indicadas de acordo com a situação e localização da retração gengival, entre outros fatores que o dentista deve levar em consideração. Nessas técnicas o objetivo é promover incisões de corte nas gengivas vizinhas aos locais de recessão, desenhando com o bisturi as papilas gengivais que desapareceram e recobrindo as raízes expostas.
Uma parte dessa gengiva permanece naturalmente conectada às gengivas vizinhas, permitindo a nutrição sanguínea adequada para o novo formato plástico da gengiva. Após o recobrimento das áreas expostas, o dentista sutura a gengiva em seu novo local. Um procedimento simples, mas que exige boa capacidade técnica do profissional.
Previsibilidade de resultados em cirurgia plástica gengival para recobrimento: uma questão essencial.
Previsibilidade é a palavra chave em cirurgias plástivas corretivas da gengiva retraída. E por quê? Porque o tratamento cirúrgico para recobrir recessões gengivais depende diretamente da capacidade de cicatrização individual dos pacientes e de diversos outros fatores, como consumo de cigarro, tamanho da recessão, mal posicionamento dentário e tipo de defeito contribuem para piorar a previsibilidade dos resultados dessas cirurgias. A falta de manejo dessas condições pode colocar tudo a perder.
A cirurgia plástica gengival tem melhores resultados em pacientes jovens, com dentes afetados pela retração, e cujas gengivas (biotipo) apresentam-se espessas. E, para todos os pacientes, os resultados menos promissores devem-se às cirurgias para recessões gengivais localizadas nos dentes antero-inferiores. Entretanto, essas são situações raramente encontradas em pacientes à procura por tratamentos efetivos para correções estéticas e funcionais de raízes expostas através da cirurgia plástica gengival.
Classificando a retração gengival de acordo com a previsibilidade cirúrgica.
Uma antiga classificação realizada por Fisher divide a recessão gengival em 4 classes, indo da classe I até a classe IV, sendo a última o estágio mais avançada da recessão gengival. As classes I e II, estágios iniciais da retração gengival, são as que obtém os melhores resultados para a cirurgia plástica gengival sem enxerto gengival. Nessas classes a perda óssea ainda é muito pequena. Já a classe III, que envolve uma considerável perda óssea, é indicada para os casos com enxertos gengivais. Nos estágios avançados e severos de retração gengival, nenhum técnica é recomendada porque os resultados são pouco promissores.
As indicações para a cirurgia plástica gengival sem enxerto de gengiva.
As melhores indicações para o tratamento cirúrgico da recessão gengival sem a utilização de enxertos recaem, sem sombra de dúvidas, sobre os casos de retrações em dentes pré-molares e molares, principalmente nos dentes superiores. Entretanto, os motivos para a cirurgia para gengiva retraída são diversos e, na maioria das vezes, dois ou mais deles estão envolvidos na decisão do paciente pelo tratamento cirúrgico da recessão da gengiva.
• déficit estético
A preocupação mais frequente relatada por pacientes também é a principal indicação da cirurgia para gengiva retraída. Além de recuperar a harmonia do sorriso, também traz grandes vantagens na prevenção às cáries dentárias em raízes. Entretanto, a retração gengival frequentemente encontrada em caninos superiores, reclamação comum porque cria um déficit estético em região altamente estética, é recomendada apenas para a cirurgia com uso de enxerto gengival coletado do palato.
• sensibilidade aumentada
Nos últimos anos, as reclamações de sensibilidade e desconforto estético com as retrações gengivais encontradas em dentes fora da região estética – como os dentes pré-molares – estão também cada vez mais frequentes. O recobrimento de raízes expostas através da cirurgia gengival é uma excelente indicação para o procedimento cirúrgico.
• prevenção de cáries radiculares
A sensibilidade e a prevenção de cáries radiculares já é, felizmente, um preocupação comum para muitos pacientes à procura por procedimentos cirúrgicos em gengivas. Mais uma indicação e possibilidade técnica para a cirurgia sem coleta de enxertos gengivais.
• recobrimento radicular em dentes com próteses dentárias
A retração gengival em dentes com próteses dentárias merece uma atenção especial porque a prevalência de retrações gengivais nesses dentes é sensivelmente maior comparada aos dentes sem próteses dentárias.
• facilitar a remoção da placa bacteriana
A retração gengival dificulta a remoção da placa bacteriana durante a escovação. Além da anatomia local modificada, a dor frequentemente presentes em areas com raízes dentárias expostas impedem a remoçao efetiva da placa. A reconstruçao e recobrimento da retração gengival em raízes dentárias expostas facilita a remoçao da placa bacteriana acumulada junto às gengivas.
• prevenção de novas retrações gengivais
Facilitar a remoção da placa bacteriana, proteger raízes dentárias expostas e impedir o trauma inflamatório pela ação das cerdas das escovas sobre as boradas gengivais são algumas das vantagens da cirurgia plástica gengival que implicam na prevenção e progressão da retração gengival.
Uma pequena observação sobre a cirurgia gengival em dentes com próteses dentárias.
Embora o trauma de escovação e as inflamações da gengiva relacionados à placa bacteriana estejam entre as principais causas para a retração gengival, dentes que suportam próteses dentárias têm nos próprios dispositivos protéticos um motivo para o aparecimento da recessão gengival.
Bordas das próteses dentárias inseridas muito internamente ao sulco gengival – executadas no intuito de esconder a borda dessas próteses – provocam retrações gengivais. Além disso, quando essas bordas são grosseiras e possuem degraus, esses defeitos de construção facilitam – e muito ! – o acúmulo de placa bacteriana que, em muitas situações, pode ser impossível ao paciente removê-las. A substituição dessas próteses por próteses mais modernas e melhor executadas são recomendadas.
Os resultados
Existem diferenças entre os resultados para as técnicas de cirurgia para gengiva retraída com ou sem enxerto gengival. As técnicas com enxertos gengivais coletados do palato, embora mais suscetíveis a infecções pós-operatórias, são mais previsíveis e, a longo prazo, tem resultados mais duradores.
Já as técnicas de cirurgia plástica gengival sem enxertos ósseos não são tão previsíveis quanto as cirurgias com enxertos gengivais. A maioria das pesquisas indicam os melhores resultados para o uso combinado das duas técnicas, oferendo indicações para casos simples de gengiva retraída em apenas um dente até os casos mais avançados com múltiplos dentes afetados pela retração. Cabe ao dentista orientar ao paciente a técnica mais indicada.
A longo prazo, todas as técnicas apresentam algum grau de recidiva da retração gengival. Os resultados com recobrimento total e recomposição perfeita do desenho das papilas não representam o padrão de resultados para esses tratamentos. Ainda assim, os resultados que decorrem da cirurgia para gengiva retraída são efetivos para a maioria das propostas de reconstituição estética, tratamentos da sensibilidade e prevenção de lesões cariosas nas raízes.
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