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Luis Gustavo Morato Leite

Prótese dentária fixa com metal traz problemas à saúde.


Se você tem entre 40 e 60 anos a probabilidade de você possuir ao menos uma prótese dentária fixa é de 83 % no Brasil. Até aí, nenhum problema. Entretanto, vão para 91% as chances de que suas próteses ainda utilizem a obsoleta técnica que associa a porcelana ao metal – a prótese dentária fixa com metal. É o que mostrou uma pesquisa apresentada no 34° Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), em 2016, apontando também os problemas causados, principalmente, pelo metal presente nessas próteses. Neste post, os problemas e tratamentos corretivos para dentes e gengivas que suportam as próteses dentárias com metal (metalocerâmicas).

 

Por Luís Gustavo Morato Leite, dentista graduado e especializado em próteses dentárias pela Ufrgs, em Porto Alegre.

 

 

Ao contrário das técnicas mais recentes de próteses dentárias com porcelana pura – conhecidas como próteses dentárias metal-free, as próteses dentária fixas com metal trazem riscos à saúde bucal, saúde geral e ainda podem levar à perda dos dentes de suporte pelos elevados riscos de fraturas e infiltrações por cáries dentárias.

 

E os problemas à saúde provocados meso por uma única prótese dentária com metal não são poucos. A Alemanha, para dar uma ideia do tamanho desses problemas, baniu a utilização dessas próteses em tratamentos dentários há quase 20 anos. Na verdade, já sabíamos que a maioria das próteses dentárias instaladas foram confeccionadas com metal e porcelana, porém não nessa proporção.

 

O que surpreende é o fato da técnica para tratamentos com prótese dentária fixa sem metal estar disponível aos dentistas brasileiros desde o início da década de 90 – tempo suficiente para que não existissem mais tratamentos realizados com a técnica com prótese associada ao metal. Além disso, os valores cobrados por tratamentos com próteses dentárias metal-free (sem metal associado à porcelana) costumam não ser tão mais elevados do que as próteses dentárias com metal que justifiquem o ainda elevado número de tratamentos em curso com essa técnica.

 

Um outro dado importante dessa pesquisa também merece atenção : 82% das próteses dentárias fixas com metal estão com problemas de infiltração por lesões cariosas, má adaptação ou fraturas. Esse alto índice, na maioria das vezes, está associado à incapacidade do indivíduo em identificar esses problemas – já que a maioria dos dentes que suportam as próteses dentárias fixas com metal possuem tratamento de canal, e também ao lento avanço das infiltrações em seus estágios iniciais associados à característica assintomática para as inflamações gengivais relacionadas a próteses dentárias mal-adaptadas.

 

Prótese dentária fixa com metal : curiosidades. (CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR).
Prótese dentária fixa com metal : curiosidades. (CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR).

 

Os problemas de saúde associados à prótese dentária fixa com metal – metalocerâmica.

 

A toxidade, o potencial para provocar alergias e a capacidade de mutagenicidade – causar câncer – às células teciduais são relacionados aos materiais presentes em uma prótese dentária fixa com metal. O berílio, metal com grande capacidade indutora de mutagenicidade, foi comercialmente banido dessas próteses mas ainda está presente em grande parte das próteses dentárias encontradas em boca. O níquel, cobalto e o cromo, ainda presentes, provocam algum tipo de reação tecidual em 15% dos indivíduos.

 

Já os problemas que decorrem do acúmulo de placa dentária e inflamações gengivais estão na outra ponta dos problemas de saúde relacionados com essas próteses. Mas não se desespere, pois os metais liberados pela técnica com próteses metalocerâmica são inferiores aos ingeridos pela dieta diária.

 

• gengiva pigmentada

A gengiva pigmentada pela tatuagem de metais desprendidos ou oxidados é um achado frequente à prótese dentária fixa com metal. Em dentes anteriores, o dano estético pode trazer desconforto no paciente com sorriso gengival – sorriso com exposição das gengivas. Essas pigmentações são difíceis de serem removidas dada a delicadeza desses tecidos, e mesmo a substituição das próteses fixas em metal por próteses em porcelana pura pode não ser suficiente para eliminar o dano estético da pigmentação por metal.

 

Em casos mais graves manchas escuras e profundas podem estar presente em toda a gengiva em contato com a prótese dentária – um defeito estético que tem tirado o sono de muitos indivíduos com o problema.

 

• alergias

As alergias ao metais das próteses dentárias, segundo pesquisas científicas, atingem aproximadamente 19% das mulheres. Os achados clínicos das gengivas em contato com o metal dessas próteses são bordas gengivais que estão avermelhadas e inchadas. O diagnóstico da alergia associada ao metal de próteses dentárias fixas é difícil, até porque na maioria das vezes o dentista associa os achados clínicos à gengivite comum.

 

Em alguns pacientes, mesmo com a retração da gengiva como resposta a essa alergia, o problema ainda permanece. Uma hipótese para a prevalência maior desse problema em mulheres é o contato elevado dessas com metais presentes em bijuterias.

 

• acúmulo de placa bacteriana

As próteses mal adaptadas ou com cavidades originadas por infiltrações facilitam o acúmulo de placa bacteriana por dificultar ou mesmo tornar impossível a remoção dessa durante a higiene oral. O resultado desse acúmulo de placa são as gengivites e periodontites, inflamações nas estruturas de suportes dos dentes. As lesões cariosas levam às perdas dentária – podendo afetar os dentes vizinhos à prótese defeituosa -, enquanto as inflamações periodontais são causas para problemas de saúde como infartos, partos pré-maturos, depressão e exacerbações da diabetes.

 

 

Os sinais que indicam a hora certa para trocar a prótese dentária com metal.

 

O tempo médio de vida das próteses fixas metalocerâmicas é, segundo pesquisadores americanos, 10 anos (sobrevida média), mas isso para uma prótese perfeitamente executada e adaptada. São várias as situações que levam o paciente ao consultório para substituir as próteses metalocerâmicas, e mesmo próteses com poucos anos de instalação têm sido substituídas devido às diferenças de qualidade das próteses em porcelana sem metal ou porcelana pura. Os motivos mais comuns, entretanto, são:

 

1. As lesões cariosas que atingem os dentes que suportam essas prótese;

 

2. As fraturas das raízes, segunda causa causa, depois das cáries, para as perdas de dentes que suportam próteses dentárias;

 

3.   A inflamação da gengiva em contato com a prótese dentária fixa em metal que não melhora mesmo após procedimentos de profilaxia no consultório;

 

4.  As recessões ou retrações da gengiva são motivos para a substituição quando causam déficits estéticos ou quando dificultam a remoção de alimentos e placas bacteriana, problema comum à prótese dentária fixa em metal porque essas próteses possuem bordas mais espessas;

 

5. A deterioração da cobertura em porcelana, processo natural que ocorre com o tempo, é um outro motivo para a troca da prótese metalocerâmica porque destoa esteticamente dos outros dentes.

 

6. Os desprendimentos constantes da prótese do dente pilar podem ser frequentes e são indícios de desadaptações que, embora possam passar despercebidas ao exame clínico, podem provocar infiltrações por lesões cariosas, principal causa para a perda dentária de dentes que suportam próteses dentárias.

 

O momento correto para substituir uma prótese dentária fixa com problemas deve ser discutido com o dentista durante o exame clínico, já que as infiltrações por lesões cariosas são difíceis de serem identificadas pelos pacientes.

 

O comum é o paciente indicar a substituição das próteses por problemas estéticos ou quando o dispositivo está solto – este último indício de que problemas maiores estão presentes que podem, muitas vezes, resultar na impossibilidade de utilização do dente para confecção de nova prótese dentária devido à grande extensão de infiltração de cárie dentária sob a prótese dentária fixa.

 

 

Os motivos para substituir a prótese fixa com metal pela técnica sem metal – metal-free.

 

Os sinais que o próprio indivíduo pode identificar já são motivos mais do que suficientes para a substituição da prótese dentária fixa com metal com problemas. Embora essas próteses tenham na resistência à compressão e no custo mais acessível características superiores às próteses com porcelana sem metal ou às próteses com porcelana pura – técnica ainda mais moderna e estética, a indicação de tratamento dentário com as próteses com metal em sua estrutura deve ser reavaliada.

 

A prótese dentária fixa sem metal apresenta características tão marcantes e superiores que a colocam como uma material definitivo para os tratamentos atuais. Entre essas características podemos citar:

1) as melhores propriedades estéticas para simular características ópticas importantes encontradas em um dente natural – como a transparência e a opalescência e cores mais naturais,

2) compatibilidade estética com as retrações da gengiva,

3)  as bordas mais finas e delicadas e

4) o fato de não pigmentarem as gengivas ou produzirem as zonas escuras junto às gengivas que tanto aterrorizam os pacientes.

 

Por último, também é importante lembrar que, devido à grande demanda no país por tratamentos com a técnica com prótese fixa com metal ou metalocerâmica, as mesmas se beneficiaram de alguns avanços desenvolvidos para uso e confecção das próteses fixas sem metal. Esses avanços proporcionaram uma maior durabilidade e menor risco de infiltrações.

 

Um exemplo disso é a possibilidade de confecção – em serviços mais modernos – da estrutura em metal por escaneamento e fresagem computadorizada, melhorando consideravelmente a adaptação dessas próteses aos dentes. Nem tudo é terrível para a técnica da prótese fixa metalocerâmica.

 

 

Tendências e momento atual das próteses dentárias fixas sem metal.

 

Não são poucas as opções em próteses dentárias fixas sem metal. E são tantas que podem até mesmo confundir dentistas já acostumados a trabalhar com esses materiais. Entretanto, dá para dividi-las em dois grupos: um com presença de infraestruturas resistentes porém confeccionadas na mesma cor que as porcelanas de cobertura, como é o caso das próteses dentárias fixas com zircônia; outro é o grupo das próteses dentárias sem presença de estruturas de suporte, e que representam a técnica mais estética disponível – são as próteses em porcelana pura. E, ainda mais recente – e que ainda não pode ser considerada um grupo específico de próteses, as próteses fixas totalmente em zircônias – próteses pra lá de resistentes, e cuja utilidade ainda estamos aprendendo a empregar.

 

As próteses dentárias fixas com zircônia são indicadas para próteses emendadas – como nas próteses com três ou quatro dentes unidos ou para dentes posteriores. Entretanto, dada a elevada estética dessa técnica, também pode ser indicada para tratamentos em dentes anteriores. Uma outra excelente indicação dessa técnica é para as próteses dentárias fixas apoiadas sobre pinos metálicos ou implantes, proporcionando tratamentos marcantes e que podem ser combinados até mesmo com facetas laminadas e lentes de contato dental.

 

Já as próteses dentárias em porcelana pura entregam resultados estéticos máximos. Com elas, tratamentos mais desafiadores – como os casos de transformações radicais do sorriso – podem ser realizados para enfrentar desafios antes impossíveis com as técnicas tradicionais como as próteses dentárias com metal, ou difíceis com as próteses dentárias com zircônia. A combinação das prótese dentária fixa com facetas e lentes de contato é, atualmente, o auge dos tratamentos dentários com próteses dentárias.

 

E, por fim, as próteses dentárias em zircônia pura, lançadas no mercado odontológico há pouco menos de um ano, entregam resistência à fraturas que vão muito além das encontradas em boca. Ainda não sabemos a utilização de toda essa propriedade física, mas, como para toda nova tecnologia, novas aplicações vão aparecendo e fazendo parte da rotina dos consultórios dentários.

 

Saiba mais sobre próteses dentárias:

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