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Luis Gustavo Morato Leite

Retração gengival, um guia com perguntas e respostas essencias.


Um em cada três pacientes com mais de 30 anos já apresenta dois ou mais dentes com retração na gengiva. Além do incômodo estético, problemas como dor e aumento da sensibilidade acabam vindo junto com a recessão gengival.  (atualizado em julho/17).

 

 

Por Luis Gustavo Morato Leite, dentista graduado e especializado em próteses dentárias pela Ufrgs, em Porto Alegre.

 

 

A retração gengival é um assunto comum nos consultórios. E nem tanto pela alta frequência com que o problema aparece, mas pelos prejuízos estéticos causados pelo problema. Dependendo do local e da extensão, dores agudas após a ingestão de alimentos frios ou pastosos podem transformar a alimentação num processo penoso. Em outras situações, são os defeitos estéticos e medo de evolução da recessão gengival as maiores preocupações. Mas conhecer algumas perguntas e respostas essenciais sobre o problema pode ajudá-lo a prevenir-se e tratar o problema.

 

 

O que é recessão ou retração gengival?

 

É a exposição da raízes dentárias ao meio bucal pela migração das bordas gengivais da sua posição ideal. O problema, que além de funcional é estético, ocorre pela perda do osso (reabsorção) do ligamento periodontal e osso que circundam as raízes, duas estruturas que compõem o periodonto e atuam como base de sustentação das gengivas.

 

retração gengival estética
Múltiplas retrações gengivais em região estética. (fonte/internet)

 

 

Além dos danos estéticos, que outros problemas podem ser consequência da retração gengival?

 

Sensibilidade dental, dificuldade para higienização (remoção de placa bacteriana) e facilidade para a formação de cárie dental, cavidades e inflamações gengivais são os principais problemas associados à condição gengival recessiva. Além disso, traumas de escovação e dificuldades técnicas para tratamentos com facetas e lentes de contato dental, ou mesmo próteses dentárias, atuam negativamente para soluções estéticas mais otimizadas. Mas o maior problema é o risco para perdas dentárias pela não tratamento das causas da recessão.

 

 

Quais são as causas da retração gengival?

 

São várias, e descubrar quais delas atuam na progressão da retração é indispensável para uma solução eficaz e definitiva. Duas delas, entretanto, são responsáveis pela maioria dos casos de recessões gengivais. A primeira é o traumatismo por escovação, resultado da pressão excessiva das cerdas da escova contra dentes e gengivas.

 

A outra é o processo inflamatório devido ao acúmulo de placa bacteriana nas bordas das gengivas, e que acontece pela higienização oral deficiente – é a periodontite, uma doença gengival que destrói o osso que suporta as raízes dentárias e é a principal causa para perdas dentárias e retrações.

 

retração gengival causas
As doenças gengivais crônicas (gengivite e periodontite) são as principais causas para a retração gengival em pacientes jovens. (fonte/internet)

 

 

Que outros motivos locais também atuam para deixas as raízes dentárias expostas?

 

Doenças sistêmicas, a posição mais alta dos freios labiais e lingual, tratamentos ortodônticos mal executados, dentes mal posicionados e até mesmo a espessura da gengiva e osso estão associados à instalação ou progressão da retração gengival, de forma isolada ou em grupos de dentes. Na maioria das vezes, entretanto, essas condições atuam de forma a facilitar a instalação e progressão da periodontite associada ao acúmulo de placa bacteriana. Em outras, nem tão frequentes, é a arquitetura periodontal suscetível à retração gengival a causa para o problema da recessão gengival.

 

Posso perder um dente devido à retração gengival?

 

Sim. Quando as causas para raízes dentárias expostas não são eliminadas, o problema pode progredir até a perda dentária. Além disso, fraturas dentárias e necessidade de tratamento de canal (endodôntico) podem ser necessários para recuperar raízes bastante danificadas pela recessão gengival extensa associada a cavidades provocadas pelo excesso de força das cerdas de escovas dentárias contra os dentes.

 

 

Quais doenças sistêmicas estão associadas com o problema?

 

Diabetes, infecção pelo HIV e leucemia trazem riscos elevados para hiperplasias (crescimento gengival) e processos inflamatórios no periodonto. Genvivas avermelhadas, inchadas e que sangram facilmente são alguns dos sinais mais comuns. Essas doenças agem facilitando o aparecimento da inflamação gengival, além da severidade e velocidade de progressão dos processos inflamatórios que, se não controlados a tempo, resultam em perdas ósseas irreversíveis e exposição de raízes.

 

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A inflamação gengival agravada pela diabetes traz riscos elevados para múltiplas recessões gengivais. (fonte/internet)

 

 

Como tratar a retração gengival?

 

A retração não é uma doença, é uma alteração da posição normal das gengivas e que decorre de uma ou várias causas associadas. O tratamento requer, independente da causa, a remoção da placa bacteriana e tártaro inseridos internamente às gengivas e o controle e instruções de higiene oral ao paciente, e que são as principais causas do problema. E quando é necessária a recomposição estética da gengiva, parte-se para a cirurgia plástica gengival, que apresentam diversas técnicas para o reposicionamento das bordas gengivais na posição original antes da exposição das raízes.

 

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Dentes anteriores com aspecto alongado devido à retração gengival. (fonte/internet)

 

 

Dá para reposicionar a gengiva retraída sem cirurgias?

 

Não. A retração gengival é irreversível por terapias não cirúrgicas. E isso ocorre porque tanto o osso reabsorvido quanto gengivas não regeneram por si só ou uso de medicamentos.

 

 

A cirurgia plástica gengival, além de reposicionar a gengiva, também reconstrói o osso reabsorvido?

 

Não. E esta é uma questão importante no tratamento da recessão gengival. A cirurgia plástica gengival para reposicionamento estético das bordas não envolve a reconstrução do osso de suporte reabsorvido, fato que influencia diretamente nos resultados – e manutenção dos mesmos – a longo prazo. As cirurgias para regeneração óssea são limitadas, desafiadoras e restritras a outras terapias odontológicas, principalmente no tratamento com implantes dentários óssointegrados.

 

 

Como são as cirurgias para reposicionamento de gengivas retraídas?

 

Basicamente, existem dois tipos de cirurgias plásticas gengivais para recobrimento de raíz dentária exposta: com ou sem uso de enxertos gengivais. Na primeira situação, são utilizados enxertos de gengivas coletados em áreas próximas ao local da cirurgia. Já na cirurgia sem enxertos, as técnicas utilizadas dispensam a coleta enxertiva. Entretanto, as indicações das técnicas são diferentes e restritas às limitações para correções das técnicas sem enxertos para situações específicas e únicas.

 

retração gengival cirurgia sem enxerto
Retração gengival isolada, com papilas íntegras: indicadas para o recobrimento da recessão co técnica cirúrgica sem uso de enxertos. *fonte/internet

 

 

Qual é o índice de sucesso das cirurgias gengivais de recobrimento?

 

Este é um ponto muito importante. Os resultados cirúrgicos não costumam apresentar 100% de resposta positiva para uma única cirurgia – principalmente para casos com múltiplos dentes com gengivas retraídas. Entretanto, o novo reposicionamento gengival cumpre seu papel de proteção e rearmonização estética. E, para indivíduos mais exigente com a estética do sorriso, o uso de uma segunda cirurgia pode ser eficiente para resultados mais precisos e esteticamente marcantes.

 

 

As gengivas retraem com a idade?

 

Pode acontecer. O importante é saber que né possível chegar aos setenta e cinco anos com todos os dentes, mínima presença de retração gengival e nenhuma sensibilidade dolorosa ao frio, doces ou ácidos cítricos. A retração das gengivas não pode ser considerada como uma decorrência natural do passar dos anos, e sim decorrente de vários fatores, principalmente, como já mencionamos, do trauma provocado pelo excesso de força na mastigação e de inflamações na gengiva e estruturas de suporte dos dentes.

 

 

Minhas gengivas frequentemente sangram. Isso traz algum risco para gengivas retraídas?

 

Sim. O sangramento gengival, que pode ocorrer de forma espontânea ou provocada durante a escovação dos dentes ou uso de fio dental, é sinal de inflamação em gengivas que, muitas vezes, pode ser sinônimo de perda do osso radicular que sustenta as gengivas ao redor da coroa em porcelana. Nesse caso, trata-se da periodontite, uma doença gengival destrutiva e que tem no sangramento das gengivas um dos principais sinais para o diagnóstico e eleboração de tratamentos especificos.

 

sangramento gengival
Inflamação e sangramento gengival: a perda do osso que sustenta as gengivas já pode estar ocorrendo no local. (fonte-internet)

 

 

Como tratar as cavidades que aparecem nas raízes dentárias expostas?

 

As cavidades formadas em raízes dentárias expostas, seja pela pressão excessiva das cerdas de escovas ou ação erosiva de alimentos ácidos, são fatores de risco para a  sensibilidade dentinária, cárie dentáriass, gengivite e periodontite, tratamentos de canal e fraturas. O que tratamento requer o recobrimento do local, que pode ser realizado com restaurações em resina ou porcelana, ou com a própria gengiva do paciente através de cirurgias gengivais – ou ainda com as duas técnicas concomitantes.

 

 

Como o tipo de gengiva interfere no aparecimento da recessão ou sucesso do tratamento cirúrgico?

 

As gengivas variam em espessura e fibrosidade entre os indivíduos. É o biotipo gengival, que também inclui a arquitetura das formas de contornos e papilas gengivais. Diversas pesquisas científicam comprovam que pacientes com gengivas finas e delicadas são mais suscetíveis à retração das gengivas. Além disso, uma menor taxa de sucesso nas cirurgias plásticas para reposicionamento gengival é associada para indivíduos com gengivas delgadas – principalmente para os tratamentos que envolvem enxertos de gengiva coletadas do próprio paciente.

 

retração gengival teste de biotipo de gengiva
A identificação do biotipo gengival é essencial para o prognóstico do tratamento. (fonte/internet)

 

 

É verdade que dentes tortos e girados facilitam o aparecimento da recessão?

 

Sim. Dentes mal posicionados pode, dependendo da localização, aumentar a suscetibilidade ao aparecimento da retração gengival. E isso pode acontecer pelo posicionamento em que o osso que envolve as raízes dentárias fica muito fino – dentes para fora da arcada, ou dentes cujas posições desarmônicas dificultam a remoção da placa bacteriana.

 

 

Dá para recobrir as raízes dentárias expostas com facetas e lentes de contato dental?

 

Os tratamentos estéticos de impacto com facetas laminadas e lentes de contato dental podem ser utilizadas para recobrir áreas com gengivas retraídas. Além da proteger as raízes da ação abrasiva das cerdas das escovas, também atua para restabelecer a harmonia do sorriso. Entretanto, a decisão por este tipo de tratamento deve levar em conta a ausência de doença gengival (gengivite e periodontite), extensão e localização das recessões e biotipo gengival, já que este tipo de técnica envolve delicados procedimentos de confecção para que as bordas laminadas sejam finas e em mínimo contato com gengivas.

 

 

Qual o problema do uso de restaurações dentárias em resina para recobrir raízes expostas?

 

A forma mais comum para reparar os danos estéticos e cavidades formadas em raízes expostas pela recessão de gengivas é o uso de restaurações dentárias em resina. A ideia é recobrir, com resinas em cores semelhantes à coroa dentária, as raízes expostas. E os resultados estéticos e de proteção costumam ser interessantes para a maioria das situações. Entretanto, trata-se de procedimento tecnicamente difícil de ser executado, e que pode gerar ainda mais retrações quando mal executados (bordas das restaurações grosseiras e mal adaptadas). Por isso, é preciso atenção redobrada na higienização de raízes dentárias recobertas por restaurações dentárias.

 

 

É possível deixar as gengivas retraídas como estão, sem tratamento?

 

Sim. E esta parece ser a medida adotada pela maioria dos pacientes e dentisas, para casos com retrações sem formação de cavidades sobre as raízes ou sensibilidade dental que não cessa mediante tratamentos com agentes dessensibilizantes. A dica é estabelecer novas técnicas de higienização dentária sem riscos para formação de doenças gengivais associadas à recessões ou com excesso de pressão das cerdas das escovas dentárias contra os dentes.

 

 

Qual o melhor tipo de escova dentária para evitar o problema?

 

O uso de escovas dentárias com cerdas macias são cientificamente comprovadas como mais adequadas para a preveção da retração gengival. Entretanto, a utilização de dispositivo de higienização com cerdas delicadas pode resultar, em alguns indivíduos, no aumento de gengivite e periodontite, dada a maior habilidade técnica necessária para uso deste tipo específico de escova. A consulta odontológica para readequar a técnica de escovação dos dentes para uso com escovas com cerdas macias é recomendada.

 

 

Qual é a técnica ideal para escovar os dentes sem provocar retrações?

 

Não existe um técnica única que sirva para todos os indivíduos. Isso porque a habilidade individual, o número, forma e posicionamento dos dentes, a arquitetura da gengiva (espessura, biotipo e presença de retrações) e existência de restaurações e próteses dentárias implicam na personalização das técnicas de escovação. Em outras palavras, para cada indivíduo existe uma técnica ideal de escovação que não ser eficiente para outro, e apenas o dentista pode estabelecer qual a mais eficiente e apropriada delas.

 

 

Por que os dentes doem com a retração gengival?

 

As raízes dos dentes não são revestidas pela parte branca e resistente que vemos nas coroas dentárias – o esmalte.  O que protege as raízes é uma estrutura fina e frágil chamado cemento, e que pode ser facilmente desgastada pela ação das cerdas das escovas sobre os dentes. Quando esse desgaste ocorre, as estruturas responsáveis pela sensibilidade dolorosa dos nosso dentes ficam expostas, facilitando o estímulo à dores que podem ir de leves e agudas ou, para casos mais graves, a intensas e espontâneas. Em casos mais graves, essa sensibilidade só pode ser resolvida com  a remoção da polpa dentária (tratamento de canal).

 

 

O que fazer com gengivas retraídas em dentes com próteses dentárias?

 

As bordas de próteses dentárias trazem desafios para a adaptação de coroas e jaquetas fixas em porcelana. E quando esta junção entre dente e prótese não se dá de forma harmoniosa, um aumento na suscetibilidade para acúmulo de placa bacteriana, pela dificuldade de remoção da mesma durante a higienização dos dentes, aumenta os riscos para o problema de gengivas retraídas. Assim, quando o problema aparece em dentes com dispositivos protéticos em porcelana, a susbtituição dos mesmos é essencial para evitar problema de infiltração por cárie dentária.

 

retração gengival e prótese dentária
Retração gengival e prótese dentária: observar a diferença de extensão do problema comparado a dente sem coroa em porcelana instalada. (fonte/internet)

 

 

Como posso evitar a continuidade da retração gengival em meu sorriso?

 

Primeiro, fazer uma consulta clínica para verificar os motivos pelos quais suas gengivas estão retraindo. Se o problema é o excesso de força de força durante a escovação o dentista vai encontrar formas mais eficientes e menos traumáticas para a escovação. Já quando as inflamações gengivais e periodontais tem como causa a placa bacteriana, consultas para remoção de tártaros, placas e fatores que podem facilitar o acúmulo dessa placa – como restaurações e próteses mal adaptadas – são realizadas.

 

 

Saiba mais sobre retração gengival e cirurgia plástica periodontal com os seguintes posts:

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