Bruxismo: 9 dicas essenciais para tratar adequadamente o distúrbio.
9 dicas essenciais para tratar o bruxismo contém informações sobre placas miorrelaxantes, diagnóstico diferencial do distúrbio na ATM, tratamento medicamentoso, dores e problemas frequentes que não podem passar despercebidos antes de abordar o distúrbio.
por Luís Gustavo Leite, dentista graduado e especializado em próteses dentárias pela UFRGS, em Porto Alegre.
1. O bruxismo não tem cura.
O bruxismo é um distúrbio neuromuscular que resulta no reflexo involuntário de apertar ou ranger dos dentes. Hereditário, o problema é modulado na sua frequência e intensidade por quadros de ansiedade que podem requerer terapia com medicamentos e placas miorrelaxantes e mudanças na postura e hábitos parafuncionais – como morder objetos e unhas, por exemplo.
O bruxismo não tem cura e o tratamento tem como objetivos minimizar os sintomas dolorosos, prevenir desgastes dentários e diminuir a frequência com que os surtos aparecem. Ainda assim, dá para controlar o distúrbio e levar uma vida confortável, sem dores e contratempos.
2. Bruxismo e distúrbio da ATM são problemas diferentes.
A confusão entre bruxismo e distúrbio da ATM, a articulação temporomandibular, é frequente e pode ser motivo para insucessos no tratamento de ambos os problemas. Apesar de compartilharem alguns sinais e sintomas como dores nos músculos mastigatórios e dificuldade para abertura de boca, a distinção entre ambos requer exames complementares para que o diagnóstico diferencial seja preciso.
As causas para o distúrbio da ATM vão desde a hereditariedade até tumores e degenerações progressivas – é por isso que o diagnóstico do problema requer urgência. O tratamento, dependendo da causa ou da severidade como a condição se apresenta, pode até mesmo ser cirúrgico ou preventivo com placas para ATM. Assim, diferenciar o bruxismo do distúrbio da ATM é importante não somente para determinar o tratamento correto, como prevenir o avanço irreversível dos danos nas estruturas articulares.
3. Nem todo bruxismo provoca desgastes nos dentes.
Dentes curtos e desgastados são sinais frequentes da atividade muscular parafuncional que caracteriza o bruxismo – mas é preciso estar atento porque nem sempre a diminuição da estrutura dentária é sinal do distúrbio. Nestas condições, o problema recebe o nome de bruxismo cêntrico, um variação da condição caracterizada apenas pelo apertamento do dentes – sem ranger -ao dormir ou até mesmo durante o dia.
O bruxismo cêntrico recebe esse nome porque, durante a manifestação do distúrbio, a mandíbula mantém-se centrada. Representando menos de 5% dos casos, traz diagnótico difícil que pode ser motivo para confusões com o distúrbio da articulação temporomandibular (ATM). Dores nos musculos mastigatórios – incluídos, aí, os músculos da cabeça e pescoço -, limitações à abertura da boca e hipertrofia dos músculo localizados sobre a mandíbula (masseter) são os sinais mais frequentes.
4. A função da placa para bruxismo não é só proteger os dentes.
A proteção dos dentes contra desgastes e fraturas é a função mais lembrada da placa para bruxismo – mas esta não é a única utilidade do dispositivo oclusal. A principal delas é a desprogramação neuromuscular do apertamento e ranger dos dentes, uma intervenção no reflexo parafuncional dos músculos da mastigação que minimiza a atividade muscular involutária da mandíbula.
Os mecanismos fisiológicos pelos quais a placa minimiza a intensidade e frequência do distúrbio não estão bem esclarecidos. O fato é que a superfície plana, lisa e escorregadia e o tipo certo da placa para bruxismo colabora para que o organismo desista dos movimentos mandibulares de apertamento e ranger dos dentes. O resultado disso é a prevenção de desgastes dentários, sono mais revigorante e diminuição do distúrbio durante o período sem uso da placa.
5. O uso de placa miorrelaxante macia é restrito ao bruxismo cêntrico.
A placa miorrelaxante para bruxismo, ou simplesmente placa para bruxismo, pode ser confeccionada em acrílico, na versão rígida, ou em polipropileno, na versão macia. A seleção entre ambos os dispositivos, entretanto, não se dá pela comodidade de encaixe e uso – mais fáceis para as versões flexíveis – e sim pela funcionalidade que cada uma traz ao tratamento do distúrbio.
A placa miorrelaxante macia é indicada para o tratamento da dor no bruxismo do tipo cêntrico (sem movimentações da mandíbula e desgastes dentários). Eventualmente, o terapia ocluasal a longo prazo com esta versão de placa também pode ser aplicada ao bruxismo cêntrico. O mais importante é saber que o uso de placas macias no tratamento do bruxismo com desgastes dentários pode agravar ainda mais o distúrbio.
6. Tratamento caseiro podem complicar ainda mais o distúrbio.
O tratamento caseiro do bruxismo pode intensificar ainda mais os sintomas do distúrbio. As terapias alternativas, de intensa divulgação na web, vão desde a adoção de produtos naturais que supostamente atuariam no bloqueio do problema a até mesmo mascar canelas e sementes. Exceto para a ingestão de chás calmantes como camolila e erva-doce, na maioria das veses o que se vê é o aumento das dores e desgastes dentários.
O bloqueio de contato entre dentes, indispensável para o tratamento do bruxismo excêntrico com ou sem desgastes dentários, requer o uso de placas oclusais que só podem ser confeccionadas pelo dentista. Sem a adoção destes dispositivos, o agravamento do quadro é o mais provável para acontecer, e com riscos para fraturas até mesmo de próteses dentárias e lentes de contato dental.
7. Uso inadequado de placa miorrelaxante pode induzir à apinéia obstrutiva do sono (SAOS).]
O design da placa para bruxismo é personalizado para cada pacientes. Além de levar em conta a posição e tipo de contato entre dentes, o dispositivo também precisa estar em harmonia com a articulação temporomandibular. Mas apesar dos cuidados com todos estes detalhes, não dá para esquecer um detalhe importante: falhas no design da placa podem posicionar a língua em posição posterior à adequada – um problema com consequências sérias.
A síndrome da apnéia obstrutiva do sono pode ter como causa a placa miorrelaxante com design inadequado. Dependendo da forma como o dispositivo é elaborado, a língua pode posicionar-se em posição muito posterior à ideal durante o sono, diminuindo o espaço para passagem do fluxo do ar. Em pacintes que já tem tendência ou dificuldades respiratórios ao dormir, a instalação ou intensificação do ronco e da apnéia respiratória pode ser uma consequência direta de placas com desenho inadequado.
8. Tratamento medicamentoso do bruxismo requer atenção.
O uso de medicamentos no tratamento do bruxismo pode ser parte da terapia de suporte ao distúrbio. Utilizada por períodos reduzidos para a remissão dos quadros dolorosos, as medicações também podem auxiliar na diminuição da intensidade e frequência com o que os músculos da mastigação atuam. Mas o uso de medicamentos por conta própria, obviamente, requer atenção.
Analgésicos simples e relaxantes musculares podem ser necessários durante os surtos de dor e atividade mais intensa do distúrbio. O uso de compressas mornas sobre os músculos da mandíbula, cabeça e pescoço e adoção de dieta macia – sem resistência durante e mastigação – também são recomendados no período de uso dos medicamentos. Só não dá mesmo é para esquecer que a terapia medicamentosa deve ser monitorada pelo dentista para, inclusive, diferenciar o problema da disfunção da ATM.
9. Perdas dentárias podem agravar o distúrbio.
Dentes extraídos podem agravar o bruxismo, e entender como isso acontece é fácil. Após a extração dentária, seja por cárie dentária, fraturas ou doenças periodontais, o mais comum é os dentes próximos ou que estavam em contato com os dentes removidos inclinarem-se ou até mesmo “descer” no espaço vazio deixado após a remoção do dente.
A alteração de posição dos dentes pós extração dentária pode originar pontos de contato dentários inadequados, possíveis causas para intensificação do distúrbio. E o problema não decorre apenas nos indivíduos com um ou mais dentes ausentes. Restaurações dentárias em resina ou com amálgama de prata, quando desgastadas, também estão associadas a contato dentários inadequados intensificadores do distúrbio. Nos bruxômanos, reabilitar espaços dentários ausentes pode ser essencial no tratamento do problema.
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