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Luis Gustavo Morato Leite

Gengiva retraída: por que ela não volta ao normal com o tempo?


A gengiva retraída não volta ao normal com o tempo. Veja as causas, o tratamento para prevenir o seu avanço e a cirurgia para recuperar a retração gengival.

 

Luís Gustavo Leite é dentista especialista em gengivas (periodontia) e próteses dentárias em Porto Alegre.

 

 

Gengiva retraída, o que é?

 

A preocupação com a saúde e estética de gengivas vem lotando as salas de esperas dos consultórios dentários. E olha que não é de hoje. Procedimentos simples, como a gengivoplastia utilizada para alinhar gengivas, ou complexos, como os enxertos de gengivas, são tão comuns como o clareamento dental ou limpeza dos dentes.

 

Entre as preocupações, o tratamento e recuperação das gengivas retraídas é o que mais chama a atenção. E com razão, já que além dos danos estéticos ao sorriso e outros problemas como a sensibilidade dental, a retração gengival pode evoluir até a perda dos dentes. Mas, afinal, o que é a gengiva retraída?

 

A gengiva retraída, ou retração gengival como também é conhecida, é uma sequela da destruição do osso que circunda as raízes dos dentes. Conforme este osso vai sendo destruído, independente da causa, as gengivas vão migrando, acompanhado a perda óssea. E como consequência, a raiz do dente atingido fica exposta.

 

 

As causas para gengivas retraídas.

 

A retração gengival, ao contrário do que se imagina, tem várias causas. As duas mais comuns, que correspondem à maioria dos casos, são a periodontite, uma infecção causada pela higiene oral deficiente, e o trauma de escovação, que é o excesso de pressão das cerdas das escovas dentárias contra as gengivas, machucando-as.

 

Mas existem outras causas. Uma delas é o tratamento com aparelho ortodôntico. Quando realizado de forma inadequada, ele pode resultar na retração gengival generalizada, como é visto nos casos mais severos de perdas ósseas devidas a movimentações dentárias.

 

Em outras situações, a retração gengival tem mais de uma causa. É o caso, por exemplo, do tratamento ortodôntico mal executado associado à higiene oral deficientes. Veja as principais causas para gengivas retraídas:

 

✓ periodontite;

✓ excesso de força ao escovar os dentes e gengivas;

✓ tratamento ortodôntico;

✓ alergias;

✓ vírus e fungos;

✓ outras doenças.

 

 

Porque a gengiva retraída não volta ao normal com o tempo.

 

Mesmo após tratada, a gengiva retraída não volta ao normal com o tempo – e não adianta apelar para os remédios e tratamentos caseiros propostos por aí, que quase sempre aumentam ainda mais o problema.

 

O motivo para a irreversibilidade da gengivas retraídas é a destruição permanente do ligamento periodontal. Esta estrutura, um complexo de diminutos feixes de ligamentos que ligam a raiz dente ao osso circundante, e que também dá o nome à doença periodontite, é essencial para a reconstrução das gengivas. 

 

O problema é que o ligamento periodontal não se reconstitui uma vez destruído, como acontece na periodontite ou como resultado da escovação com excesso de força. Até o momento, os avanços da ciência odontológica são pouco eficientes para reconstituir o periodonto, praticamente limitados a universidades.

 

 

O tipo de gengiva influencia na severidade da retração gengival.

 

Uma característica da retração gengival é que alguns fatores facilitam o seu aparecimento e sua progressão. É o que chamamos de suscetibilidade ao aparecimento de gengivas retraídas.

 

Um dos fatores mais importantes é o biotipo gengival, uma classificação que, vista aqui resumidamente, divide as gengivas em finas ou espessas, e também quanto à presença ou não de queratina, uma proteína que confere maior fibrosidade às gengivas.

 

Indivíduos com gengivas finas e delicadas, por exemplo, são mais suscetíveis ao aparecimento e progressão da retração gengival. Note, porém, que o biotipo gengival fino não pode, sozinho, causar retração gengival. Para ele atuar, é preciso que os fatores de causa, como a periodontite e ou uso inadequado da escova de dentes, estejam presentes.

 

 

Tratamento da retração gengival.

 

O tratamento da retração gengival envolve o diagnóstico, tratamento e prevenção do problema.

 

O diagnóstico, além do exame clínico feito pelo periodontista no consultório dentário, quase sempre requer exames radiográficos. É nesta consulta que o dentista identifica a qualidade da higiene oral do paciente para remover a placa bacteriana, e também sonda as gengivas atrás de sangramento gengival ou bolsas periodontais sugestivos de gengivite ou periodontite.

 

Já o tratamento vai desde a raspagem e remoção dos fatores que retém a placa bacteriana, como o tártaro, à elaboração de técnicas de higiene oral mais eficientes com escovas de dentes, fio dental ou outros instrumentos de limpeza dos dentes.

 

Após o término do tratamento, o periodontista determinada a necessidade ou não da cirurgia para retração gengival. O fato de que a gengiva retraída não volta ao normal com o tempo não é determinante para a adoção de técnicas cirúrgicas para reposicionar os tecidos gengivais a sua posição original.

 

 

A cirurgia gengival para recuperar gengivas retraídas.

 

A retração gengival não volta ao normal mesmo depois de tratadas as gengivas. Para que volte a recobrir a raiz dentária exposta, são necessárias técnicas de cirurgia gengival para reposicionar as bordas das gengivas a sua posição original.

 

A técnica mais utilizada é a cirurgia gengival simples. Realizada em um ou vários dentes concomitantemente, é realizada através de incisões de descolamento das gengivas retraídas e reposicionamento simples, estabilizadas através de suturas.

 

Com pós-operatório simples, a cirurgia para recuperar gengivas retraídas tem algumas limitações. Uma delas é quando a retração gengival é causada por periodontite, cujas perdas ósseas e das papilas gengivais (gengiva localizada entre os dentes) trazem um prognóstico negativo quanto aos resultados da cirurgia plástica gengival.

 

Apesar das limitações da cirurgia, seus resultados cirúrgicos são previsíveis e permanentes quando bem indicados. Atualmente, os casos mais indicados à esta técnica são as retrações gengivais provocadas por trauma de escovação ou, em algumas situações, provocadas por movimentação dos dentes por aparelho ortodôntico.

 

 

Enxerto de gengiva é restrito a alguns casos.

 

O enxerto de gengiva é uma técnica indicada aos casos mais severos de retração gengival, ou ainda quando as gengivas são finas. Com pós-operatório delicado, que exige dedicação do paciente no período de recuperação e cicatrização da gengiva, ele é um procedimento que também pode ser realizado de forma preventiva.

 

Atualmente, são dois os tipos de enxerto gengival. O mais utilizado é o enxerto natural, cujas gengivas são coletadas do próprio paciente. Outra fonte comum é o enxerto biossintético, obtido a partir de matriz animal.

 

Assim como na técnica simples, a cirugia com enxerto para gengiva retraída traz limitações. Da mesma forma, seus resultados são limitados quando a causa para a  recessão gengival é a periodontite, cujas danos à arquitetura óssea são severos e impedem o recobrimento das raízes dentárias expostas após a ação da doença periodontal.

 

 

Prevenção da retração gengival.

 

Se as gengivas retraídas não voltam ao normal com o tempo, ao menos é possível prevenir o seu aparecimento e progressão. E o melhor de tudo, é fácil controlá-la.

 

Além da consulta periódica ao periodontista, que é o dentista especialista em retração gengival, os cuidados vão desde o uso de escovas de dentes com cerdas macias e uso de técnicas eficientes para remoção da placa bacteriana.

 

Bastam estes cuidados básicos para que a prevenção da retração gengival seja efetiva para prevenir a exposição das raízes dos dentes ao meio bucal.

 

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