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Luis Gustavo Morato Leite

A influência dos alimentos na prevenção ou formação do mau hálito.


O mau hálito é um constrangimento pelo qual ninguém espera passar.  Todo mundo já passou pela desagradável experiência de conversar ou conviver com alguém com esse problema e sabe o quão inconveniente é a situação. O que para alguns pode ser apenas o resultado de uma má higiene bucal passageira, para outros pode ser um problema diário e que requer um acompanhamento de um dentista para identificar e solucionar esse problema. Além de discutirmos as causas e tratamentos, veremos como os alimentos podem também ser responsáveis pelo mau hálito.

 

Por Luís Gustavo Leite, dentista especializado em Porto Alegre.

 

É importante diferenciar a halitose do mau-hálito, algo que a literatura tem falhado no entendimento do problema. O mau hálito pode ser decorrente direto de uma alimento, e cessando o seu consumo o problema prontamente termina, enquanto a halitose vai depender de outros fatores locais ou sistêmicos do próprio indivíduo. Estima-se que 40% da população sofra ou sofrerá, em algum período de sua vida, de halitose crônica.  Alguns pacientes, inclusive, podem não perceber a existência de odores desagradáveis em seu próprio hálito. O problema é que raramente alguém está disposto a avisar a alguém sobre o problema, e acabamos, nós mesmos, procurando evidências que possam revelar que estamos passamos por essa situação tão desagradável.

 

Como eu percebo que estou com mau hálito ?

 

O jeito mais óbvio de detectar é colocar as mãos diante da boca e exalar uma boa parte do ar presente nos seus pulmões e detectar se existe algum odor desagradável. Outra forma é perguntar a alguém  se ele tem notado, com alguma frequência, o problema. Só não vale fazer o teste quando estamos em período prolongado de jejum, principalmente após um noite de sono, já  que nesse período entramos em um período de menor salivação aonde alguns ácidos e substâncias naturalmente presentes na cavidade bucal vão se deteriorar. E isso é normal de acontecer. Escovar bem a língua e os dentes, e uma boa higiene com fio dental, ajudam a eliminar o problema.

 

Os alimentos no papel de prevenção do mau hálito.

 

Os alimentos podem provocar um hálito indesejável passageiro ou que dure por muitas horas após a sua ingestão. O alimento não provoca uma situação crônica de mau hálito, desde que, claro, um alimento com potencial para provocar mau hálito não seja consumido de forma crônica. Desde o primeiro momento que os alimentos entram na cavidade bucal já se dão início ao processos de digestão pela degradação dos alimentos. O mau hálito pode ser resultado do próprio odor característico de um alimento em específico – como a cebola – ou resultado da degradação desse no processo digestivo, desde restos de alimentos na cavidade bucal até alimentos que estão em digestão já no intestino.

Suco de limão e gengibre são exemplos de alimentos saudáveis e que combatem o mau-hálito.
Suco de limão e gengibre são exemplos de alimentos saudáveis e que combatem o mau-hálito.

O processo digestivo não é igual para todo mundo. Algumas pessoas tem maior ou menor dificuldade de digestão para determinados tipos de alimentos, e o tempo que um alimento permanece em degradação determina o tempo de duração do mau hálito. Alguns alimentos são potenciais formadores de gás sulfídrico – o enxofre, o grande vilão do bom hálito, enquanto outros são eficientes para anular a formação deste ou de outros odores indesejáveis.

 

O que pode estar ocorrendo para que eu esteja com mau hálito ?

 

Já foram identificados mais de 60 fatores que podem estar causando a hálitos. A maior parte desses fatores – 90% deles – está na própria cavidade bucal, e em poucos casos a origem está em problemas extra-bucais. Dos problemas de origem bucal a presença de doenças gengivas e periodontais ou a presença de saburra, que é uma placa bacteriana esbranquiçada ou amarelada localizada na parte mais posterior da língua, são provavelmente as causas da halitose. As doenças gengivas e periodontais necessitam de tratamento odontológicos, e a saburra lingual pode ser eliminada com escovação cuidadosa e com equipamento específico para ela.

 

A digestão dos alimentos no sistema digestivo, aliado à decomposição dos restos alimentares na cavidade bucal, é fundamental para a formação temporária do mau-halito – mas que pode permanecer por quase doze horas, dependendo da digestão pessoal de cada indivíduo e do tipo de alimento. Quando a ingestão desses alimentos é frequente, o paciente pode entender que o problema é de origem crônica, ou até mesmo sistêmica, como a diabetes.

 

Quando a causa não está dentro da cavidade bucal, o problema provavelmente pode ter sua origem nas vias aéreas superiores, mais precisamente na amígdalas. Nelas pode haver a formação dos cáseos amigdalianos, pequenas “massinhas amareladas” aderidas às amígdalas e que tem composição semelhante à da saburra lingual. Os cáseos possuem odor mais forte do que a da saburra lingual. Quando as vias aéreas superiores estão inflamadas o mau-hálito também está presente, mas nesses casos, após a remissão dos fatores inflamatórios, o mau-hálito desaparece imediatamente. É o que ocorre quando estamos com uma sinusite ou inflamação na garganta.

 

É importante estar atento ao que pode estar formando a saburra e os cáseos amigdalianos.  Ambos são decorrentes da descamação das células mais superficiais dessas mucosas, podendo ser decorrentes do ressecamento da mucosa provocado pelo ronco ou respiração bucal, da ingestão frequente de bebidas alcoolicas, do uso de enxaguatórios bucais com álcool ou até mesmo do uso de aparelhos ortodônticos.

 

A diminuição do fluxo salivar também pode causar halitose por envolver uma constante descamarão das células epiteliais da mucosa bucal. Essa diminuição pode ser decorrente do uso de alguns medicamentos, levando a um problema maior de diminuição do fluxo salivar chamado de xerostomia.

 

Em todos os casos, a escovação cuidadosa dos dentes e da língua e o uso diário do fio dental devem ser um hábito mesmo para aqueles pacientes que não estão enfrentado problemas como a halitose.

 

 

O mau hálito não vem do estômago !

 

Frequentemente acusado de ser o responsável pela hálitos, o estômago raramente é o grande vilão do seu problema. E põe muito raramente nisso. Estima-se que apenas 0,01% dos problemas têm sua origem tão internamente em nosso organismo. Apenas como curiosidade, a diverticulite esofágica é a grande responsável pelo problema.

 

Em algumas situações – menos de 10% dos casos – a origem pode ser sistêmica. A diabetes pode, e com alguma frequência, provocar um odor cetônico no hálito. Outras doenças como o câncer ou problemas nos fígados e rins também podem estar provocando a halitoses. Em todos os casos, quando o dentista não encontra uma causa bucal para o problema, o paciente é encaminhado para descartar uma origem sistêmica do problema.

 

 

Alguns alimentos podem estar causando a halitose em você.

 

Alguns alimentos têm um capacidade maior de produzirem odores desagradáveis, derivados do gás sulfídrico ( enxofre ).

 

Cebola e o alho . Imediatamente terríveis ao hálito segundos após a sua ingestão, esses alimentos têm uma atividade sistêmica muito importante para alterar a composição da saliva, contribuindo expressivamente para a formação da halitose. Sem contar no efeito imediato após a primeira mordida !

Repolho, couve, sardinha, ovos e azeitonas. 

As deliciosas azeitonas podem estar provocando o seu mau hálito.
As deliciosas azeitonas podem estar provocando o seu mau hálito.

Pizzas, salame, mortadela e queijos. Os alimentos gordurosos, apesar de se degradarem de forma diferente aos dos alimentos que produzem gás sulfídrico, também produzem máu-hálito. É o cheiro doce e azedo da própria gordura.

 

Chás e os chocolates. Os alimentos estimulantes, como os chocolates,  diminuem a formação do fluxo salivar, implicando na formação do mau-hálito.

 

Alimentos que podem evitar o mau hálito.

 

Maças, cenouras e pepinos. Comidos crus ou com a casca, auxiliam na remoção de restos alimentares e ajudam a diminuir o problema.

 

Chá de bolso. Auxilia na digestão dos alimentos no estômago e no aparecimento dos odores indesejáveis decorrentes dele. Assim como o bolso, o gengibre também auxilia na digestão por ser um ótimo adstringente.

 

Iogurte natural sem açúcar. Excelente para anular a formação de  odores decorrente do gás sulfídrico que com frequência se forma na cavidade bucal após a ingestão de alimentos.

 

iogurte natural
Iogurte natural com frutas são excelente para evitar o mau hálito.

Suco de limão. Por ser adstringente e também bactericida, ajudando na digestão e eliminação de bactérias indesejáveis na cavidade bucal, e também por estimular o fluxo salivar.

 

Hortelã. Nem precisa explicar porque ela está presente em balas e chicletes. Mantém um aroma na medida certa para anular qualquer tipo de odor indesejável. Tente mastigar folhas naturais ao invés de chicletes e balas – estes, sempre sem açúcar.

Água. 

 

 

A prevenção e eliminação do mau hálito.

 

A maioria das causas do mau hálito e da halitose podem ser eliminadas sem a necessidade de uma consulta odontológica. Quando os problemas não cessam um dentista pode auxiliar no diagnóstico e tratamento do problema, e se a causa for sistêmica, o encaminhamento do paciente a um médico especializado é necessário.

 

As três principais formas de prevenção são a escovação dos dentes – principalmente a parte que está em contato com a gengiva, escovação da parte posterior da língua com equipamento específico – cuidado ao escovar a sua língua com uma escova odontológica e o uso diário do fio dental.

 

O enxaguante bucal – sempre sem álcool em sua fórmula – tem um efeito bastante paliativo na eliminação do mau hálito. Dura pouco tempo o efeito e as causas do problema ainda estarão lá quando o efeito passar. Mas, em um momento de aperto, até vale a pena.

 

Se o problema ainda persistir, consulte um dentista.

 

Luís Gustavo Leite, dentista especializado em Porto Alegre.

 

 

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