Dente mole após batida? Da fratura à luxação, veja como tratar.
Dente com mole ou frouxo após batidas ou pancadas pode levar à perda dentária se não tratado. Veja como é o diagnóstico da mobilidade dentária após trauma, as causas, como é o tratamento e como eliminar a mobilidade e os riscos aos dentes após impactos e traumas diretos.
Luís Gustavo Leite é dentista graduado e especializado em periodontia e próteses dentárias, pela UFRGS, e atende em consultório particular em Porto Alegre.
Dente com mobilidade após pancadas e quedas. Qual a causa para isto?
Batidas frontais nos dentes anteriores são mais comuns do que se imagina. Para ter uma ideia do quão frequente isto é, uma pesquisa científica identificou que, nos indivíduos acima dos 30 anos, 60% deles apresentam algum tipo de dano dentário causado por traumas dentários, como batidas e pancadas diretas sobre os dentes, ou quedas.
Apesar de comuns, os traumas dentários não recebem toda a atenção que merecem. Como a dor pode cessar em alguns dias e a mobilidade do dente pode nem incomodar tanto assim, o mais comum é não consultar ao dentista quando o trauma ocorre. Não à toa, muitos dentes acabam extraídos ou escurecidos de forma irreversível com o passar dos anos.
E umas das complicação imediatas do trauma dentário é a mobilidade. O dente simplesmente fica móvel, deslocando-se para frente ou para trás.
Nos casos mais leves, a mobilidade é percebida através de um leve deslocamento do dente para frente ou para trás. Nos mais graves, o dente desloca-se verticalmente, desalinhando com relação aos demais dentes.
Existem várias causas para a mobilidade dos dentes após batidas e quedas:
✓ fratura no osso alveolar (osso que circunda a raiz dentária);
✓ fratura na raiz dentária;
✓ fratura na coroa dentária (parte visível do dente);
✓ subluxação (mobilidade sem deslocamento vertical);
✓ luxação (mobilidade com deslocamento vertical)
✓ pouco suporte ósseo (periodontite e retração gengival);
✓ raízes dentárias curtas.
Diagnóstico: tomografia descarta trincas e fraturas na raiz dentária.
Entre as sequelas dos traumas dentários, as trincas e fraturas na raiz dentária são as que trazem os prognósticos mais sombrios.
Para confirmá-las, são necessários exames clínicos e radiográficos para descartar outras causas para a mobilidade dos dentes, como a luxação ou a fratura da coroa dentária.
O raio-x, feito no consultório do dentista, um exame simples e rápido, é limitado. Isto porque ele só consegue detectar as fraturas dentárias quando estas são extensas, formando linhas visíveis e amplas de separação da raiz fraturada.
O exame tomográfico, por sua vez, é mais eficiente e pode detectar diminutas trincas e fraturas que não aparecem no raio-x convencional. Com custo mais elevado, ele deve ser solicitado quando da presença de dor e mobilidade concomitantes – ou quando descartar a existência de fraturas pode ser importante para descartar outras causas.
Dependendo da causa, o dente frouxo pode não voltar ao normal.
Mobilidades dentárias de pequena a média amplitude (até 1mm de movimentação), na quase totalidade dos casos, desaparecem com o passar das semanas ou meses. Não é preciso fazer nenhum tratamento, basta evitar a ingestão de alimentos duros e o uso parafuncional do dente traumatizado – como morder unhas e abrir objetos.
Mas para que a mobilidade desapareça sozinha, ela não pode ter como causas a fratura da raiz, da coroa dentária ou ainda a fratura do osso alveolar.
Além disso, também é preciso estar atento ao fato de que o processo natural de diminuição da mobilidade após traumas pode resultar no reposicionamento do dente em posição diferente da original.
Não raro, os dentes reposicionam-se mais abaixo ou mais para dentro da sua posição original. Em outros casos, aparece o contato prematuro, que é quando o dente traumatizado toca o seu dente antagonista antes dos outros, ao mastigar ou fechar a boca.
A estabilização natural do dente em posição diferente deve ser levada em conta na hora de decidir entre o tratamento de estabilização do dente, feito pelo dentista, ou a estabilização natural, sem nenhum tratamento.
O tratamento da mobilidade dentária por trauma conforme a causa.
Estabilizar dentes com mobilidade exige tratamento cuja técnica pode variar conforme a causa do trauma. Veja o que fazer quando os dentes movimentam-se excessivamente após batidas, quedas e pancadas frontais.
Luxação.
A luxação é a causa mais comum para a mobilidade dos dentes após quedas e batidas diretas. Ela aparece devido ao alargamento do espaço periodontal, uma estreita área que envolve toda a raiz dentária e é preenchida pelos ligamentos periodontais, uma complexa rede de ligamentos elásticos que unem os dentes ao osso alveolar.
Os sinais e sintomas mais comuns da luxação dentária são a dor ao morder ou tocar no dente e a mobilidade excessiva do dente – eventualmente sangue pode ser encontrado junto às bordas das gengivas do dente luxado.
O diagnóstico é clínico, porém exames por imagens são importantes para descartar outras causas, como as fraturas nas raízes.
Quando a mobilidade por luxação é pequena, não é preciso fazer nada – ela desaparece gradualmente ao longo das semanas. Já quando é excessiva, a imobilização dentária é necessária para a recuperação do espaço periodontal alargado.
Fratura do osso alveolar
O osso alveolar envolve e dá suporte rígido às raízes dos dentes. Por vezes, após traumas, este osso fratura e causa a mobilidade dos dentes.
Os sinais e sintomas mais comuns são o edema e o avermelhamento das gengivas próximas à raiz dentária e a dor provocada que aparece ao tocar no dente ou sobre as gengivas na região do osso alveolar.
O diagnóstico é radiográfico, e a tomografia odontológica é o exame indicado. O tratamento exige contenção rígida dos dentes por até 45 dias. Após, a contenção é removida e novos exames por imagens são solicitados para acompanhar a evolução da redução óssea.
Fratura da raiz dentária
A fratura ou a trinca da raiz dentária é a pior complicação. Diagnosticada após exame tomográfico, frequentemente exige como tratamento a remoção (extração dentária) do dente traumatizado.
Em algumas situações, entretanto, a fatura e a trinca dentaria não exige a remoção do dente. São as fraturas que ocorrem na ponta da raiz (ápice ou terço apical) ou até 1 a 2 mm próximas às margens (bordas) ósseas.
Além da imobilização do dente traumatizado, o tratamento requer uma cirurgia para remover a ponta da raiz dentária fraturada (cirurgia para apicetomia) ou expor a área fraturada próxima às bordas das gengivas (cirurgia para aumento da coroa clínica do dente).
Fratura da coroa dentária
Por vezes, o dente ficou móvel (frouxo) após a batida frontal porque a coroa dentária (parte visível do dente) é que está fraturada.
Nestes casos, o diagnóstico clínico pode ser suficiente para confirmar o problema. Ainda assim, radiografias são necessárias para descartar outras causas.
O tratamento requer a remoção da parte fraturada e confecção de prótese dentária em porcelana. O tratamento de canal (endodôntico) também é necessário para que o dentista instale, internamente à raiz dentária, um pino protético em fibra de vidro para o suporte da futura prótese dentária.
Suporte ósseo reduzido
Por vezes, o osso alveolar que sustenta as raízes dentárias está reduzido. Clinicamente esta situação é vista como a retração gengival, em que partes das raízes dentárias estão expostas.
As causas mais comuns para isto são a periodontite e o uso traumático da escova de dente.
Os traumas em dentes com suporte ósseo reduzido favorecem a mobilidade dentária mesmo frente às pequenas pancadas frontais. O tratamento, mais complexo, vai da imobilização dentária temporária à imobilização dentária permanente (splint dentário).
Raiz dentária curta
Em alguns casos, a raiz dentária do dente traumatizado é curta (reabsorvida). Pequenas batidas, nesta situação, são suficientes para mobilidades. A causa mais comum para dentes com raízes dentárias curtas é o tratamento ortodôntico feito de forma errada.
O tratamento para o dente com raiz dentária reabsorvida que apresenta mobilidade requer a imobilização dentária temporária rígida ou semi-rígida, dependendo do caso.
Tratamento: imobilização dentária temporária pode ser necessária em várias situações.
Para estabilizar o dente com mobilidade, é necessário imobilizá-lo por algum tempo. Para isto, duas técnicas estão disponíveis: a imobilização dentária rígida e a imobilização dentária semi-rígida.
A diferença entre as duas técnicas é apenas que, na semi-rígida, uma leve movimentação do dente pode ser percebida quando da ação de forças diretas. Fora isto, as técnicas são semelhantes.
A imobilização temporária é feita diretamente sobre os dentes, um uma única consulta. Podendo demorar entre uma a duas horas, ela utiliza um fio delineado e unido, através de resinas estéticas, ao dente traumatizado e aos dentes vizinhos.
O resultado final é bastante parecido ao visual que o aparelho ortodôntico confere ao sorriso, porém mais discreto.
O número de dentes necessários à imobilização de dentes com mobilidade após traumas depende do local, da oclusão e da severidade da mobilidade.
Acompanhamento radiográfico: o que pode acontecer com o dente ao longo do tempo.
Ainda que o exame radiográfico realizado imediatamente ou alguns dias após o trauma dentário não indique a presença de trincas ou fraturas na raiz do dente traumatizado, e mesmo que o tratamento realizado tenha sido efetivo para eliminar a mobilidade e a dor, o acompanhamento radiográfico posterior é essencial para descartar complicações que podem aparecer meses ou anos após a batida do dente.
Exame radiográfico após 90 dias
O rompimento do feixe vásculo-nervoso, responsável pela vitalidade do dente, não pode ser detectado por exames radiográficos. E quando ele ocorre, problemas como a recorrência da dor e da mobilidade do dente podem aparecer nos próximos 90 dias seguidos da pancada no dente.
O raio x é importante para detectar a presença de inflamação no ápice (ponta) da raiz do dente, junto ao osso que a circunda, e pode indicar o tratamento de canal (endodôntico) como tratamento preventivo para evitar processos inflamatórios futuros.
Exame radiográfico após 6 meses
Fístulas gengivais, inchaço e avermelhamento das gengivas e dor ou sensibilidade ao toque nas gengivas junto ao dente traumatizado podem aparecer passados 6 meses. O exame radiográfico realizado 6 meses é importante para prevenir o aparecimento de processos inflamatórios provenientes da necrose dentária após o rompimento do feixe vásculo-nervoso.
Exame radiográfico após 1 ano
O processo de necrose do dente pode ocorrer de forma assintomática (sem dor) por durante um ou mais anos. Neste período de tempo, complicações mais severas, como a reabsorção radicular, que podem levar à perda dentária, ou mais simples, como o escurecimento dentário, podem ser evitados através dos exames radiográficos realizados após 1 ou mais anos passados da batida no dente.
Escurecimento dentário (dente escuro) é uma das complicações mais comuns.
O aparecimento de um único dente escuro em região anterior do sorriso é mais frequente do que se imagina. E quando a causa é o trauma dentário, bastam alguns meses para que o escurecimento do dente já seja perceptível.
É fácil como o dente escurece. O rompimento da irrigação sanguínea do dente afetado, que pode ocorrer ao bater o dente, leva à morte (necrose) dos tecidos vivos presentes na parte interna do dente.
Na maioria dos casos, o processo de necrose ocorre de forma silenciosa, sem dores ou fístulas.
Como consequência, o sangue aprisionado na parte interna do dente traumatizado degrada-se, liberando ferro. O dente vai literalmente sofrendo corrosão metálica, daí a cor escura que vai aparecendo com o tempo.
Para evitar o escurecimento dentário, é preciso certificar-se de que os feixes vasculares não foram rompidos. Em caso positivo, o tratamento de canal prévio é suficiente para evitar o aparecimento de dentes escuros após choques acidentais nos dentes anteriores.
Risco para perda dentária existe mesmo passados alguns anos.
Nem todos as pequenas batidas em dentes frontais, que resultam em pequena mobilidade dos dentes, exigem tratamento. Na maioria dos casos, passados alguns dias ou semanas, o dente estabiliza-se sozinho.
Por outro lado, é difícil para o paciente saber quando o trauma ao dente exige tratamento. Os riscos, quando não são realizadas estabilizações no dente traumatizado, vão da fixação do dente em posição diferente (o dente fica torto, desalinhado) ao aparecimento de fístulas nas gengivas como resultado de trincas ou fraturas dentárias.
Todas as pancadas diretas sobre os dentes em que algum tipo de mobilidade pode ser percebida exigem, portanto, um exame clínico e radiográfico feito pelo dentista, no consultório odontológico.
Reabsorção da raiz dentária: o que fazer quando ela aparece.
A reabsorção da raiz do dente traumatizado é um dos problemas que pode aparecer após bater o dente. E ainda pior, ela pode acometer mesmo os dentes que foram corretamente tratados através da imobilização ou do tratamento de canal.
O mecanismo pelo qual o próprio organismo reabsorve a raiz dentária não é bem entendido. O que se sabe é que, por algum motivo, as células de defesa entendem a raiz do dente traumatizado como um corpo estranho, e que precisa ser removida.
A reabsorção da raiz dentária é contínua e não dói. Inflamações são raras. A forma mais comum é a reabsorção lenta da ponta da raiz. Reabsorções das laterais das raízes dentárias também são frequentes.
Uma informação importante é que não é possível predizer quando o processo de reabsorção da raiz do dente traumatizado ocorrerá, nem mesmo se ele ocorrerá.
O tratamento para a raiz dentária em processo de reabsorção pode ser a remoção da ponta da raiz do dente (apicetomia) seguida de curetagem do osso circunscrito – desde que a técnica ainda seja passível de aplicação.
O tratamento é cirúrgico, mas nem sempre funciona. Por isso, o acompanhamento radiográfico ao longo dos anos é essencial para acompanhar a efetividade da apicetomia.
Em pacientes com bruxismo, a placa para bruxismo é essencial após o tratamento com contenção rígida.
Em pacientes com bruxismo, a placa para bruxismo pode ser importante após o período de imobilização dos dentes com mobilidade para evitar contato traumáticos e potentes característicos desde distúrbio neuromuscular de apertamento e ranger dos dentes.
Implante dentário é última opção no tratamento de dentes com mobilidade após pancadas e batidas.
A remoção do dente após batidas pode ser necessária em alguns casos. O mais comum é quando ele tem como causa trincas e fraturas localizadas em áreas não passíveis de tratamento. São os casos das fraturas que aparecem no meio da raiz (terço médio) ou que provocam mobilidade extrema em dente cujas raízes estão severamente reabsorvidas.
O implante dentário é uma das opções para recuperar a mastigação e a estética após a remoção dos dentes. Frequentemente, ele é instalado no mesmo dia da extração dentária, o que diminui o número de cirurgias e facilita a apreensão de um dente provisório enquanto ocorre a osseointegração do titânio ao osso – o que exige entre 1 a 6 meses, dependendo do caso.
Uma alternativa ao implante dentário é a prótese dentária fixa na técnica com pôntico. Fixa aos dentes laterais ao dente removido, ela tem como vantagens o menor tempo de tratamento e opções estéticas tão variadas quanto à prótese dentária em zircônia ou a prótese dentária em porcelana pura.
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