Alergia a próteses dentárias em mulheres. Diagnóstico e tratamentos.
Post com informações sobre a alergia a próteses dentárias em mulheres, do diagnóstico ao tratamento e as alternativas terapêuticas ao problema.
Por Luís Gustavo Morato Leite, dentista graduado e especializado em próteses dentárias pela Ufrgs, em Porto Alegre.
A alergia aos metais presentes nas próteses dentárias convencionais.
Alergias são condições de hipersensibilidade do sistema imunitário que, na maioria das vezes, não causam problemas maiores à saúde oral. Entretanto, um tipo mais específico de reação alérgica provoca danos e riscos sérios às gengivas e ossos que suportam dentes: a alergia aos metais presentes nas próteses dentárias fixas convencionais. A surpreendente e desconhecida alta incidência do problema revela que uma mudança na abordagem dos tratamentos atuais para alergias gengivais à próteses dentárias fixas com porcelana são mais do que necessárias.
A alergia a próteses e coroas dentárias parece ser seletiva, já que a quase totalidade dos casos restringe-se às mulheres. E, entre elas, o índice é bastante alto: aproximadamente 17% dos pacientes femininos desenvolvam algum tipo de alergia a próteses dentárias com presença de metal, que vai desde pequenas áreas vermelhas e inchadas nas bordas das gengivas até dentes com extensa retração gengival e supuração inflamatória. A situação, para os casos mais graves, é séria e pode levar à perda de dentes.
A renite alérgica, por exemplo, um tipo de alergia mais comum e que atinge quase 20% das pessoas nos países desenvolvidos, é pouco mais incidente do que a alergia aos metais em próteses dentárias fixas com porcelana. E o problema é que o diagnóstico da alergia provocada por prótese dentária pode levar mais de uma década para ser realizada. Tempo suficiente para que danos irreversíveis – como as retrações na gengiva e perdas intensas do osso de suporte – produzam danos estéticos e perdas dentárias.
Alta incidência: proibidas na Europa, próteses com metal ainda são amplamente utilizadas no Brasil.
Muitos países da Europa restringem os tratamentos dentários com próteses subestruturadas por metal – como níquel e cobalto. A Alemanha foi o primeiro deles, suspendendo a técnica com próteses com subestruturas metálicas há mais de quinze anos. No Brasil, a situação é inversa : a maioria das próteses dentárias fixas ainda possuem metais em suas estruturas internas.
O berílio, por exemplo, que é um metal com potencial carcinogênico bastante conhecido e documento pela ciência médica, e que facilita a confecção, por exemplo, dos pinos metálicos que suportam as próteses, ainda pode ser encontrado – e sem muitas dificuldades – nas lojas para laboratórios de próteses dentárias.
Diagnóstico complicado
A alergia é uma resposta imunológica exagerada à presença de uma ou mais substâncias que entraram em contato com o organismo. O diagnóstico da alergia a próteses dentárias com presença de metal é feito pelo dentista após o fracasso do tratamento gengival ou periodontal: curar áreas inflamadas e avermelhadas na gengiva em contato diretos com próteses dentárias.
A primeira suspeita para qualquer problema inflamatório nas gengivas é a gengivite associada à placa bacteriana. Em algumas pacientes essas inflamações podem evoluir para áreas já com a presença de algum tipo de retração gengival, além dos sinais inflamatórios característicos da alergia a próteses dentárias.
Após algumas consultas sem progresso do tratamento, a hipótese de alergia a próteses dentárias como causa para inflamações ou retrações da gengiva deve ser considerada e os tratamentos para a solução do problema devem ser imediatamente iniciados.
A hipótese do uso de bijuterias como desencadeador das alergias a próteses dentárias em mulheres.
O maior responsável pela aparecimento de alergias a próteses dentárias com subestrutura em metal em mulheres é o níquel – o cobalto também está ligado ao problema, mas em menor intensidade. Pelo menos é a ideia mais plausível segundo pesquisas científicas sobre alergias ao metal de próteses dentárias.
O mecanismo pelo qual as mulheres são mais atingidas pelos problemas de alergias à próteses parece ser esse: como o níquel é um metal frequentemente encontrado em bijuterias, o uso e exposição prolongados das mulheres a anéis, brincos e pulseira aumentam consideravelmente a incidência do problema.
Danos potenciais às gengivas, ossos de suporte e dentes.
A alergia ao metal presente em próteses dentárias pode evoluir de uma simples inflamação da gengiva até a perda do dente. As complicações mais frequentes do problema são listados abaixo.
• inflamações gengivais
É o problema mais comum associado à alergia ao metal em próteses dentárias fixas. Começam com gengivites que podem evoluir para periodontites. A resposta nula aos tratamentos gengivais é um indicador de que a alergia pode ser a causa das inflamações gengivais.
• mal hálito
O mau hálito pode ter origem nas inflamações gengivais associadas à prótese dentárias mal adaptadas. A secreção produzida nas inflamações gengivais também podem ser fonte para o mau hálito.
• retração da gengiva
A inflamação gengival pode atingir estruturas de suporte dos dentes como os ligamentos periodontais e o osso que o suporta. O resultado é a retração da gengiva e exposição da raiz dentária.
• pigmentação gengival
O metal presente na subestrutura de próteses fixas com porcelana pode, com o passar dos anos, corroer e provocar pigmentos ou manchas escuras nas gengivas. E, infelizmente, a pigmentação gengival por metal, além de comum, também pode ser causada pelo metal presente em restaurações com amálgama de prata. Quando essas pigmentações aparecem em dentes na região anterior da arcada, os danos estéticos podem ser desastrosos e necessitar de cirurgias plásticas gengivais para a correção do problema.
• perda dentária
Em situações mais extremas – mas não raras – o processo inflamatórios das gengivas e periodonto podem evoluir para a perda dentária devido à perda progressiva do osso que suporta as raízes dentárias.
Tratamento
A substituição das próteses dentárias com presença de metal por próteses em porcelana pura é solução rápida e eficiente. Existem diversos tipos de técnicas e materiais para a confecção de próteses dentárias livres de metal. Uma boa dica é o uso de provisórios por um período de tempo maior do que o usual, já que é preciso esperar que todo o processo inflamatório esteja terminado e a gengiva em boas condições para o início das moldagens para a confecção das novas próteses. O teste funciona como diagnóstico mais preciso.
Casos mais avançados de inflamação associada à alergia ao metal de próteses dentárias apresentam áreas com extensa retração gengival Nesses casos, principalmente quando a retração está em região anterior e estética, pode ser necessário um procedimento periodontal estético para recobrir as áreas de exposição das raízes dentárias envolvidas.
Em todo caso, a alergia a próteses dentárias é um problema que deve ser levado em conta na hora de escolher qual o melhor material para a confecção de uma prótese dentária, principalmente em mulheres.
As alternativas para substituir as próteses dentárias com metal
Mas se o uso de próteses dentárias com subestrutura em metal deve ser evitado em tratamentos em mulheres, quais são os tipos de próteses dentárias com porcelana livre de metal ? Abaixo, algumas dessas alternativas.
• próteses dentárias com subestrutura em zircônia
Uma das primeiras técnicas de próteses dentárias fixas sem a presença de metal, é mais eficiente, resistente e com melhores resultados estéticos do que as próteses convencionais com metal.
• próteses dentárias com cerâmica pura
São técnicas mais modernas e indicadas para dentes anteriores. O uso mais comum dessa técnica é para os tratamentos de transformação do sorriso com facetas laminadas e lentes de contato dental.
• pinos protéticos em zircônia ou fibra de vidro
Os pinos protéticos que sustentam próteses dentárias em dentes muito danificados também podem estar envolvidos no problema.
• próteses sobre implantes sem a presença de metal
As próteses dentárias com porcelana sobre implantes também podem ser confeccionadas sem a presença de metal. Além de mais estéticas, são também mais duráveis.
Quando a substituição ou troca da prótese dentária em pacientes alérgicos não responde.
O tratamento da alergia à prótese dentária pode não responder favoravelmente quando o único procedimento adotado é a troca ou substituição do dispositivo protético. Quando as inflamações gengivais encontradas em pacientes alérgicos a próteses dentárias produzem recessões muitos extensas nas gengivas, o risco de recidiva da inflamação é elevado. Pacientes com alergias a próteses dentárias não dão importância adequada à dificuldade de remoção de placa bacteriana nas regiões com recessões muito intensas, e em áreas de difícil acesso da escova.
Pré-molares e incisivos inferiores e superiores são exemplos do problema. A retração da gengiva não é apenas um problema estético. Vai bem além disso. Além de significar a perda óssea e riscos aos dentes, recessões gengivais são facilitadores para o acúmulo da placa bacteriana causadora da gengivite e periodontite.
Todos os casos de retrações gengivais, não apenas pacientes alérgicos a próteses dentárias, necessitam de instruções profissionais de remoção de placa bacteriana para que a inflamação e progresso das recessões não sejam permanentes.
Cirurgia plástica gengival pode ser necessária para algumas situações.
A cirurgia plástica gengival é um recurso que pode ser imprescindível na terapia contra a inflamação e recessão gengival provocada pela alergia à prótese dentária com metal. Além de eliminar os danos estéticos ao sorriso quando o problema atinge dentes anteriores, é uma excelentes forma de minimizar o acúmulo constante de placa bacteriana nas cavidades normalmente existentes em raízes expostas pela recessão gengival.
Alergia à zircônia presente em próteses dentárias. Mais essa?
O insucesso dos tratamentos de pacientes com alergias à próteses dentárias encontra explicações em algumas pesquisas recentes sobre alergias provocadas pela zircônia. Embora iniciais e inconclusivos, a suspeita pode explicar porque, mesmo após a troca da prótese em metal por outra nova em zircônia, o processo inflamatório da gengiva continua mesmo com o acompanhamento rigoroso, tanto pelo dentista quanto pelo paciente, da remoção de placa bacteriana no local da inflamação.
Muitos outros problemas podem ser responsáveis pela inflamação crônica da gengiva. Nas associadas à alergias à próteses dentárias, as causas sistêmicas costumam ser descartadas dada a localidade da inflamação. Ainda assim, há solução para o problema: existem próteses ainda mais modernas, com porcelana pura, que não utilizam a zircônia em sua estrutura interna, e com resultados estético superiores. Enfim, recursos existem para lidar com o problema da inflamação gengival por alergia à prótese dentária.
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