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Luis Gustavo Morato Leite

Dor de cabeça causada por bruxismo: tratamento é multidisciplinar.


[resumo] 

As dores de cabeça associadas ao bruxismo são mais frequentes do que se pode imaginar. Saiba como o bruxismo pode estar por trás da cefaléia, como é o seu tratamento, como diferenciá-lo da disfunção temporo-mandibular (ATM) e como prevenir o seu aparecimento.

 

Luís Gustavo Leite é dentista especialista em periodontia e próteses dentárias. Dedica-se, há 20 anos, ao tratamento do bruxismo, dor e disfunção na ATM, com consultório em Porto Alegre.

 

 

Bruxismo, uma disfunção dos tempos modernos.

 

Poucos problemas de saúde são tão prevalentes quanto o bruxismo. Para ter ideia, estima-se que aproximadamente 75% da população brasileira tenha algum sinal ou sintoma de manifestação dele. É muita gente sofrendo por um problema tão pouco divulgado – e até mesmo estudado.

 

Para quem não sabe, o bruxismo é um reflexo neuromuscular involuntário de apertar e ranger os dentes. Com elevado fator genético, ele aparece mesmo em indivíduos que possuam seus dentes corretamente alinhados. Ele surge sozinho mesmo, e com maior prevalência durante o sono (bruxismo noturno).

 

Um fato curioso sobre o bruxismo é que ele é considerado um dos distúrbio comportamental moderno, já que está bastante associado à ansiedade e ao estresse emocional. Não à toa, nos grandes centros urbanos ele é muito mais prevalente comparado às pequenas cidades, aonde a vida sofre menos os impactos do dia-a-dia corrido.

 

 

Diagnóstico: desgastes nos dentes nem sempre estão presentes.

 

O diagnóstico do bruxismo é realizado no consultório do dentista e não requer exames radiográficos. Os sinais e sintomas mais comuns do distúrbio são os desgastes nos dentes, a dificuldade para abrir a boca ao acordar, as dores nos músculos da face e também as dores na cabeça e pescoço.

 

A avaliação odontológica completa é importante para descartar possíveis problemas dentais, como cáries, má oclusão e periodontite, já que os sintomas destas duas condições costumam ser parecidos com as dores causadas pelo bruxismo.

 

Infecções provocadas por cáries dentárias profundas, por exemplo, podem causar dores difusas e tão intensas que até os músculos do pescoço são afetados. Nestes casos, exames radiográficos são essenciais ao diagnóstico diferencial entre a cárie e a cefaléia por outras causas.

 

Em muitos casos, exames neurológicos, supervisionados por médicos neurologistas, são necessários para descartar outras causas subjacentes, como tumores. 

 

O diagnóstico da dor de cabeça por bruxismo é complexo. Desgastes no dentes, ainda que severos, são insuficientes para diagnósticos conclusivos. É o caso do bruxismo cêntrico, que manifesta-se apenas pelo apertamento dos dentes, sem ranger.

 

Bruxismo severo: desgastes dentários severos em paciente não protegido por placa.

 

 

A dor de cabeça associada ao bruxismo.

 

Não está bem clara a forma como o bruxismo pode causar ou intensificar as dores na cabeça. Os trabalhos científicos sobre o assunto são muitos – porém pouco conclusivos. 

 

Por ora, o que podemos observar, é uma elevada incidência de dores de cabeça entre os indivíduos com bruxismo, e também uma redução significativa dos sintomas quando tratados com placa de bruxismo e fisioterapia combinada.

 

Estudos mostram que portadores do bruxismo tem até 2X mais chances de desenvolver cefaléias primárias, que é a dor de cabeça em si, sem causas secundárias.

 

 

Ansiedade, bruxismo e cefaléia.

 

O bruxismo é um distúrbio essencialmente genético e reflexo. Entretanto, existem alguns fatores não centrais, como a ansiedade e o estresse, que iniciam ou intensificam os ciclos de apertamento e ranger dos dentes e aumentam a potência dos músculos envolvidos – o que só aumenta os riscos para desgastes e fraturas dos dentes.

 

A ansiedade é mais prevalente nos portadores do bruxismo comparada àqueles que não o possuem. E quando o bruxismo é acompanhado por dores na cabeça, a ansiedade é ainda mais prevalente – 62% dos indivíduos com cefaléia e bruxismo relatam histórico de ansiedade e estresse prolongados.

 

Dor na cabeça e pescoço associado ao bruxismo. Regiões mais afetadas.

 

 

Fique atento: bruxismo e disfunção na ATM são coisa diferentes.

 

O bruxismo é frequentemente confundido com a disfunção na articulação temporo-mandibular (ATM). Esta articulação, que é dupla e localiza-se lateralmente à cabeça (próxima aos ouvidos), é responsável pelos movimentos de abertura, fechamento e lateralidade da mandíbula.

 

Tanto o bruxismo quanto a disfunção na ATM podem provocar sinais e sintomas como dores na face, cabeça e pescoço, e limitação para abertura da boca.

 

Outra confusão é quanto à possibilidade da disfunção da ATM ser causada pelo bruxismo. Até o momento, não existem pesquisas científicas conclusivas sobre este relação de causa e efeito. E para piorar ainda mais, é possível que indivíduos sejam portadores das duas condições deletérias, sem que elas possuam relação entre si.

 

ATM: músculos, ligamentos, nervos e cápsula articular podem estar por trás das dores na cabeça.

 

 

Tratamento é multidisciplinar.

 

O tratamento da dor de cabeça causada pelo bruxismo quase sempre exige uma abordagem multidisciplinar, que envolve, além do dentista, fisioterapeutas, psicólogos e até neurologistas.

 

Ao dentista, o tratamento indicado é o uso diário, por tempo indeterminado, de placas para bruxismo, que ajudam a relaxar os músculos e também a evitar desgastes e fraturas nos dentes. 

 

Além disso, ele também pode indicar dietas macias e aplicação de compressas umedecidas e mornas sobre os músculos da cabeça e do pescoço para os períodos mais intenso do distúrbio, que podem perdurar por vários dias.

 

A fisioterapia pode ajudar por meio de técnicas de massagem e alongamento dos músculos da face e do pescoço. Já o psicólogo pode ser necessário no tratamento da ansiedade e do estresse emocional que costumam intensificam o distúrbio. 

 

 

A placa para bruxismo no tratamento da dor de cabeça.

 

A placa para bruxismo é um dispositivo encaixado a uma das arcadas do paciente e serve evitar o contato entre os dentes. 

 

A indicação da placa para mordida ou placa miorrelaxante, como também é chamada, é devida a sua elevada capacidade para eliminar, quando utilizada, e reduzir, quando não utilizada, os reflexos neuromusculares de apertamento dos dentes – o que ajuda a proteger tanto os dentes quanto os músculos mastigatórios.

 

No tratamento da dor de cabeça causada pelo bruxismo, a placa para bruxismo é ainda mais indicada. Entre os seus benefícios estão a proteção dos músculos mastigatórios e faciais contra contraturas, a proteção das diminutas estruturas da articulação temporomandibular e também a descompressão temporal (cabeça) causada pela hipertrofia dos músculos ali presentes.

 

Basicamente, a placa para bruxismo pode ser feita com 3 tipos diferentes de materiais. Acrílica (dura), que é a mais indicada devido ao seu potencial mais elevado no tratamento a longo do prazo do bruxismo, e as placas do tipo semi-rígida e flexível, que são indicadas no tratamento da dor de cabeça no curto prazo do bruxismo e da disfunção da ATM.

 

A placa para bruxismo é feita pelo dentista, no consultório, após a moldagem das arcadas dentárias. São necessárias duas consultas, e o tempo médio para ela ficar pronta varia entre 2 a 5 dias. Após instaladas, são necessárias entre uma a duas consultas para revisar a adaptabilidade do paciente à placa para mordida, e também os seus resultados na remissão da dor de cabeça.

 

 

 

Medicações

 

Para controlar o bruxismo e prevenir a dor de cabeça associada, o uso temporário de medicações pode ser necessário. 

 

Os medicamentos mais utilizados são os relaxantes musculares, utilizados em conjunto com compressas quentes para potencializar o seu efeito, os analgésicos simples, indicados nos períodos de surto do bruxismo, e os antiinflamatórios, de uso eventual nos casos mais intensos de dores e limitação de abertura da boca.

 

 

Terapia comportamental e eliminação de hábitos parafuncionais.

 

Placa para bruxismo, dietas macias, medicamentos e fisioterapia nem sempre são suficientes para tratar a dor de cabeça associada ao bruxismo. Em muitos casos, o acompanhamento de um terapeuta é indicado para os casos de bruxismo intensificados pelo estresse e a a ansiedade. 

 

Os hábitos parafuncionais são fatores intensificadores do bruxismo. Roer unhas e gomas de mascar são exemplos de atividades musculares não funcionais, que aumentam a potência dos músculos mastigatórios e intensificam a frequência dos ciclos de ranger e apertar dos dentes.

 

Assim como a terapia comportamental, a identificação e eliminação dos hábitos parafuncionais são importantes no tratamento da dor de cabeça associada ao bruxismo. Em muitos desses caos, a terapia comportamental também pode ajudar no bloqueio das atividades parafuncionais.

 

 

Prevenção da cefaléia causada por bruxismo e DTAM.

 

As cefaléias podem aparecer por várias causas, e uma delas possivelmente é o bruxismo. 

 

As dores de cabeça frequentes e não tratadas afetam a qualidade de vida dos indivíduos acometidos e podem, quando não tratadas, evoluir para enxaquecas crônicas ou até mesmo quadros de depressão emocional.

 

A prevenção da dor de cabeça de crônica pode ser multidisciplinar. Além das consultas regulares ao dentista para acompanhar a evolução do tratamento com a placa para mordida, a fisioterapia também pode ser necessária na prevenção da cefaléia.

 

Além disso, adotar hábitos saudáveis, como praticar atividades físicas, ter uma alimentação equilibrada e evitar o consumo de álcool e tabaco também são importantes. Já a redução do estresse e da ansiedade podem exigir técnicas de relaxamento, como a yoga.

 

O mais importante mesmo é saber que o tratamento da dor de cabeça associada ao bruxismo existe, é eficaz e quase sempre só requer o uso e acompanhamento de placas para mordida e adoção de hábitos saudáveis.

 

Mais informações? clique aqui:

http://luisgustavoleite.com.br/tratamentos/bruxismo-dentista-em-porto-alegre.php

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